Paulo: Apóstolo ou Anticristo?

O seguinte artigo foi copiado de http://exegeseoriginal.blogspot.com.br/2012/06/paulo-foi-mesmo-apostolo.html?spref=fb. Achei importante compartilhar, pois é algo fundamental para entender o falso monoteísmo cristão.

“Ele praticamente fundou o cristianismo ocidental, porém existem partes de suas cartas que desmentem Jesus e dizem para que sejamos mentirosos, suas cartas sub-julgam as mulheres e fazem condenações que não são mencionadas nas falas atribuídas a Jesus nos outros evangelhos. Paulo, por tudo que eu li, seria na verdade um anti-cristo, pois falou o oposto do que Jesus teria dito, fundou a doutrina da trindade, se auto-denominou apóstolo sem nunca ter vivido com Jesus, foi um grande perseguidor de cristãos, ordenou o mal e a hipocrisia como ferramentas para a “evangelização”, instaurou o celibato(coisa que Jesus nunca disse), condenou homossexuais direto ao inferno, suas cartas são as que mais possuem a palavra “eu” recheadas de discurso em 1ª pessoa, ele desprezou os outros apóstolos dizendo que “não há proveito neles”, brigou com eles, foi desprezado como falso por eles etc…
O que me impressionou foi o fato de que nem foi preciso pesquisar muito em livros teológicos, basta pegar a própria Bíblia para obter uma gama de informação a respeito e verificar o contraste entre os evangelhos anteriores e suas cartas, ele é a maior fonte de contradições bíblicas.”

Paulo foi mesmo apostolo?

Muitas pessoas me perguntam sobre a questão de Paulo, se ele foi de fato um apostolo ou não, devido a sua influência no cristianismo e a um termo criado pelos teólogos chamado dePaulinismo. Os teólogos definiram este termo devido ao foco do cristianismo ser mais Paulo que o próprio Jesus. Se você perguntar qualquer coisa a um religioso, ele certamente dirá: “Paulo disse isso….” não Jesus. Paulo, junto com seu dicipulo Lucas, criaram uma doutrina própria que em alguns pontos contradiz com a mensagem do evangelho, gerando contradições e confusões. Isso é definido como paulinismo. Mas o que poucos sabem, é que Paulo não era aceito pelos messianicos convertidos pelos apóstolos e que haviam divergências entre Paulo e os demais apóstolos que conviveram e aprenderam com Jesus.

Jesus e Paulo

Os criticos ao Paulinismo, alegam que Paulo não era aceito pela comunidade judaica, como aliás, até hoje, existem grupos de judeus messianicos não aceitam suas epístolas. Alegam que a fé cristã não pode se basear ou se fundamentar em um apóstolo que disse que não aprendeu nada com os outros apóstolos,(Gl 2,6-9) que não era considerado pelos outros apóstolos como apóstolo (1Cor 9,2) que disse que mentia (Rm3,7), que disse que dissimulava (1Co 9,20) e que não importava a forma como o evangelho era pregado, mesmo por interesse ou dissimulação (Fp 1,18).

Como é praticamente um tabu falar sobre isso, e é um assunto que eu geralmente me omito, vou transcrever abaixo trechos de artigos de um teólogo critico do Paulinismo, e deixo a liberdade para cada um analisar e tirar suas próprias conclusões. Como disse o próprio apóstolo paulo:”Analise tudo e retenha o que for bom”

Autor do texto: lci blog

“Sei que não podes suportar os maus,e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos”. – Apocalipse 2, 2

Os Apóstolos são os discípulos mais famosos de Jesus. Há uma certa controvérsia à volta dos seus nomes, mas aceita-se geralmente que eram Pedro, João, Tiago (Maior), Tomé, Simão, André, Filipe, Tiago (Menor), Mateus, Bartolomeu, Judas Tadeu e Judas Iscariote. Isto de serem doze é bastante significativo. Doze tribos de Israel, um Apóstolo para cada uma. O próprio Jesus falava de doze tronos no Céu, um para cada Apóstolo que ele escolheu.

Quando Jesus morreu e Judas se suicidou, os Apóstolos viram-se numa situação delicada: sem Mestre e sem um dos Doze. Percebiam que o número doze era importante, por isso trataram de escolher um substituto para Judas, impondo um critério de selecção: o escolhido devia ter seguido Jesus desde o dia do seu baptismo até à sua morte (Actos 1, 21-22). Nomearam então dois homens: José, chamado Barsabás, o Justo e Matias. A decisão final foi deixada ao Espírito Santo: tiraram à sorte e a sorte coube a Matias. Matias é portanto, décimo-segundo Apóstolo que veio substituir Judas Iscariote.

E que é feito de Paulo, “o maior de todos os Apóstolos”? Pois é. A História dos Apóstolos de Jesus não tem espaço para ele. Se deixarmos de lado as presuposições e analisarmos os factos, torna-se quase impossível entender como é que ainda hoje se junta Apóstolo e Paulo.

Apesar de não ter sido nomeado por Jesus, nem cumprir os requisitos posteriormente impostos por Pedro, Paulo apresentava-se sempre como sendo um Apóstolo. É pertinente recordar aqui algo que Jesus disse: “Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro.”(João 5, 31) E na verdade, para além de Paulo há apenas uma outra pessoa que lhe atribui o título de Apóstolo: Lucas, autor de Actos dos Apóstolos. Mas Lucas era um discípulo de Paulo, logo não é surpresa que trate o seu professor pelo título que este prefere.

Paulo era um homem inteligente. Sabia que os argumentos de autoridade contam, e por isso acompanha sempre a sua apresentação pela autoridade de Deus (algo do estilo “apóstolo não pelos homens mas por Jesus Cristo”). Se “Deus” lhe deu uma missão através de uma visão (uma visão bastante questionável, por sinal, já que nem o próprio Paulo a relata de maneira coerente) quem o pode desafiar? Mas ao contrário da visão, que só Paulo teve, as palavras de Jesus foram ouvidas por muita gente. Todos os que o ouviam sabiam quem eram os Doze Apóstolos.

Paulo chega mesmo a utilizar Escrituras, aplicando antigas profecias a ele próprio, nomeadamente Isaías 49, 6: “também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra.” (Actos 13, 47-49) O problema com esta profecia é que se aplicava apenas a Isaías. Não a Paulo.

Portanto, até agora Paulo tem uma questionável missão “divina” e uma falsa profecia. Que mais? Ah, sim. O grande ego e a auto-adoração. Paulo achava-se, de facto, superior aos outros Apóstolos (os verdadeiros). Chega mesmo a dizer que “trabalhou muito mais do que eles” (1 Coríntios 15, 10), e fala de Tiago, Pedro e João dizendo que “pareciam ser as colunas”, mas que a ele nada lhe acrescentam (Gálatas 2, 6-9). Não há em todo o Novo Testamento nenhum autor que use a palavra “eu” com tanta frequência como Paulo.

Mas a derradeira prova da falsidade deste “Apóstolo” vem de João, ou melhor de Jesus através de João. João escreveu o Apocalipse. A data exacta não se sabe, mas é bastante provável que tenha sido escrito durante a “missão” de Paulo. Se Paulo era de facto um grande Apóstolo, não há nenhuma palavra sobre a sua grandeza nesta Revelação. Há contudo, uma referência ao seu trabalho.

Logo no primeiro capítulo a aparição de Jesus diz a João que escreva o que vê num livro e o envie às sete igrejas na Ásia. Prossegue então com uma mensagem para cada uma das Igrejas. A mais relevante para o caso é a primeira, para a de Éfeso. Diz o seguinte:

“Conheço as tuas obras, o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. […] Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Apocalipse 2, 2-7)

Tem-se conhecimento apenas de uma pessoa que se dirigiu à Igreja de Éfeso dizendo ser Apóstolo:

“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus” (Efésios 1, 1)

Como se isto não bastasse, existe também este pequeno desabafo de Paulo ao seu amigo Timóteo:

“Bem sabes isto, que os que estão na Asia todos se apartaram de mim.” (2 Timóteo 1, 15)

E onde é Éfeso? Na Ásia.

Também Lucas fala sobre a dificuldade de aceitação que Paulo encontrou em Éfeso. No capítulo 19 do livro dos Actos dos Apóstolos relata o sucedido. Paulo persuadiu alguns dos homens (doze, de acordo com Lucas) a deixarem o baptismo de João (convém lembrar que Jesus procurou o baptismo de João) e deu-lhes um outro baptismo “em nome de Jesus Cristo”. Ensinou ali durante alguns meses, mas a maioria das pessoas rejeitaram os seus ensinamentos e falavam contra eles em público. (Actos 19, 1-9)

Então o que temos aqui? Paulo disse, “sou um Apóstolo, este é o Evangelho”. A Igreja de Éfeso disse-lhe, “vai-te embora”. E João, Apóstolo de Jesus, disse-lhes, “muito bem! é assim mesmo!”

Jesus disse, “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos os conhecereis.” (Mateus 7, 15)

Paulo, ao fazer passar-se por um dos Doze escolhidos não foi a sua primeira obra estranha. Como se sabe, e como o próprio Paulo diz em várias das suas cartas, em tom de orgulho, por vezes, antes da sua “conversão”, Paulo, chamado Saulo na altura, era o maior perseguidor dos seguidores de Jesus. Esteve, inclusive, directamente envolvido no primeiro martírio, de Estêvão.

Há um outro episódio de perseguição que não se encontra relatado na Bíblia, mas sim numa carta de Pedro que faz parte do Novo Testamento Essénio.

Tiago, um dos Apóstolos mais importantes, a par de Pedro e João, encontrava-se no Templo a convite dos líderes judeus, para discursarem. Primeiro falou o sacerdote, e depois Tiago tomou a palavra e falou-lhes sobre Jesus e os seus ensinamentos. Tudo o que dizia surpreendia os que o ouviam, por ser uma doutrina tão inovadora. As palavras de Tiago foram convincentes e muitos se converteram. Menos um, que se encontrava no auditório. Paulo.

Quando Tiago se calou, foi a vez de Paulo falar e proferir palavras inteligentes, mas cheias de raiva. Paulo era uma fera, e conseguiu virá-los contra Tiago e os discípulos que ali estavam, gerando-se um motim em que dezenas foram assassinados. Paulo dirigiu os seus esforços pessoais a Tiago, atirando-o do cimo das escadas. Julgando-o morto, foi se embora e deixou-o ali.

Por sorte, Tiago não morreu. Mas Paulo não desistiu e continuou a sua perseguição, falando contra Jesus, os seus seguidores e a sua doutrina sempre que podia. Para ele, tudo aquilo era uma abominação.

Mas o que é certo é que os Apóstolos eram bem sucedidos, e o núcleo de seguidores aumentava de dia para dia. A clara oposição violenta de Paulo não estava a funcionar, por isso estava na altura de pôr em prática o plano B: se não os podes vencer, junta-te a eles… e destrói-os por dentro.

Aqui entra a suposta “conversão” na Estrada para Damasco. Paulo diz ter tido uma visão de Jesus, que lhe perguntou, “porque me persegues?” E supostamente nesta altura, Paulo emendou os seus erros e tornou-se “apóstolo”. Primeiro, os mentirosos têm tendência a dizer “não estou a mentir”, o que Paulo faz constantemente (Gálatas 1, 20 por exemplo: “Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto!”) Mas em Romanos ele diz:”Mas, se pela minha mentira abundou mais a verdade de Deus para glória sua, por que sou eu ainda julgado também como pecador?” (Romanos 3,7)

Outro sinal de uma mentira é que a história nunca se mantém. De cada vez que a conversão é relatada, os pormenores mudam (Actos 9, 3-19; Actos 22, 6-15; Actos 26, 2-19). Até mesmo o que se passou depois é incerto, já que é relatado de uma maneira num lado (Actos 9, 19-27) e doutra noutro (Gálatas 1 e 2).

Ao que parece, os Apóstolos tiveram algumas dificuldades com esta mudança de Paulo. Primeiro, duvidaram e tiveram medo da sua aproximação. Depois, aceitaram. E quando viram que Paulo não estava interessado em seguir o que Jesus disse, renegaram-no.

Profecia de Zacarias que os judeus atribuem a Jesus

João falou indirectamente de Paulo, não só no Apocalipse, mas também nas suas cartas. João tinha o hábito de não referir certas pessoas pelo nome, mas sim por títulos ou por acções. Já no Evangelho, há um “discípulo que Jesus amava”, interpretado pela tradição mais ortodoxa como sendo o próprio João, ou segundo outras interpretações, Lázaro.

João avisa a respeito de “falsos profetas”, e enumera algumas das suas características: não seguem os Apóstolos (1 João 4, 6), ensinam doutrinas contrárias, nomeadamente que Jesus não tinha um corpo inteiramente humano/fisico (1 João 4, 2), fizeram parte do grupo (de discípulos) mas afastaram-se (2 João 2, 19), e não cumprem os ensinamentos de Jesus ( 2 João 1, 9).

Tudo isto se aplica a Paulo. Se Paulo se “converteu” e foi falar com os Apóstolos, é evidente que depois se separou deles. O próprio o diz, que se separou e foi sozinho pregar aos gentios (Gálatas 2, 9). Também sabemos que Paulo não achava que os Apóstolos fossem grande coisa, apenas “pareciam ser pilares”, mas a ele “não lhe acrescentavam nada”. Não só não os ouvia, como chegou a confrontar Pedro publicamente sobre as suas acções, condenando-as (Gálatas 2, 11). paulo acusou pedro de dissimulado, coisa que ele mesmo assumiu ser (1Corintios 9,20) e de ter dissimulado por medo dos judeus, coisa que o mesmo Paulo fez ao circuncidar Timóteo por medo dos judeus.

Paulo ensinava coisas contrárias à doutrina ensinada pelos Apóstolos. No que toca à humanidade de Jesus, Paulo dizia que Jesus tinha sido enviado na “aparência de carne humana” (Romanos 8, 3). Os Apóstolos por seu lado diziam que Jesus era inteiramente humano. E quanto a seguir os ensinamentos de Jesus, isso era coisa que não interessava a Paulo. Aliás, se nos guiássemos por Paulo apenas, nunca saberíamos nada do que Jesus disse ou fez, porque Paulo nunca fala sobre isso. Apenas ensina as suas próprias ideias e considerações.

Pela segunda vez temos de João a confirmação que Paulo não vinha da parte de Jesus (Apocalipse e cartas). Mas apesar das advertências dos Apóstolos, Paulo conseguiu o que queria. O seu séquito cresceu, o que não é surpreendente, já que “o seu evangelho” (Rm2,16/2Tm 2,8) é bem mais fácil e conveniente do que a Mensagem de Jesus. E assim, a verdadeira doutrina foi obscurecida. Quando o evangelho de Paulo chegou a Roma, Paulo atingiu o auge da sua carreira. Foi a sua melhor jogada. E até aos dias de hoje, Cristianismo é apenas o nome que se dá à religião que Paulo formulou. Um nome mais apropriado seria Paulinismo, porque de Cristo há nela muito pouco.

“Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor” (1Corintios 9,2)

Paulo e Pedro, amizade questionavel

Segundo a tradição da igreja católica, Pedro e Paulo eram grandes amigos. São representados como sendo os melhores amigos em Cristo. Mas… não era bem assim.

A primeira prova que temos vem do próprio Paulo, que desprezava as palavras e acções de Pedro, falando contra ele em público (Gálatas 2, 11-14). Por raciocínio lógico deduzimos que Pedro não podia concordar com Paulo. Sendo um dos Doze, esteve com Jesus e sabia qual era a verdadeira doutrina dele (ou seja, diferente da de Paulo).

Quando confrontados com este argumento, cristãos conhecedores da Bíblia não perdem tempo a citar a segunda carta de Pedro, capítulo 3, versículos 15 e 16: “Escreveu-nos também o nosso caríssimo irmão Paulo, segundo a sabedoria que lhe foi concedida. E assim fala em todas as Cartas em que trata destes temas; há nelas alguns temas difíceis, que os ignorantes e pouco firmes deturpam – como fazem às restantes Escrituras – para a sua própria perdição.”

Ora, há algumas coisas que podemos dizer sobre esta passagem. Primeiro que Paulo tinha de facto, muitos inimigos que analizavam as suas cartas (“distorcem”) e que “Pedro” considerava as cartas de Paulo “Escritura”. E se assim era, então aqui está a prova que Paulo e os Apóstolos até se davam bem e que Paulo vinha da parte de Jesus. Se isto é verdade então andei aqui a perder tempo com tantos posts a desmascarar Paulo.Claro que as coisas não são tão simples.

Douglas del Tondo no seu livro Jesus Words Only faz uma breve história do canon bíblico. Um pormenor interessante que vemos nesta cronologia é que a segunda carta de Pedro teve bastantes problemas em ser aceite. Ao fim de várias décadas foi integrada no canon, e novamente rejeitada alguns anos mais tarde, até que finalmente passou a fazer parta da Bíblia tal como a conhecemos hoje. Esta constante rejeição é suficiente para levantar algumas suspeitas. E de facto, muitos estudiosos concordam que 2 Pedro é uma pseudo-epístola, não escrita por Pedro, o Apóstolo.

Há também uma boa parte de estudiosos que pensa que estes versículos onde Paulo é referidosão uma inserção (feita, nada mais nada menos que pelos fiéis discípulos de Paulo). E, efectivamente, lendo o texto em contexto, a menção a Paulo parece um pouco descabida. Mais, retirando os dois versículos, a carta continua a fazer perfeito sentido.

Na minha opinião, as duas coisas podem ser verdade. Talvez 2 Pedro seja uma fabricação, e se é, então não interessa se faz ou não referência a Paulo, ou se essa referência é uma inserção posterior ou não – é falsa e acabou. Mas se é de facto uma carta autêntica de Pedro, então os versículos são definitivamente uma inserção. Pedro jamais apoiaria Paulo.

Seja como for, é curioso olhar para um outro livro bíblico: o Evangelho de João. Os últimos capítulos, que falam dos episódios pós-ressureição, também levantam algumas suspeitas de inserção posterior. Se tal aconteceu, então não duvido que foi obra de João e os seus seguidores, eternos defensores de Jesus. Caso não sejam uma inserção, contêm, para quem acredita nestas coisas, uma profecia bastante relevante.

Pedro é sempre retractado como o discípulo com alguns problemas em manter-se fiel às suas convicções. Não foi ele que negou Jesus três vezes no momento mais difícil? Numa clara referência a este momento de fraqueza, Jesus ressuscitado pergunta a Pedro três vezes se o ama e se é seu amigo. Relembremos o que Jesus entende por amigo: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando.” (João 15, 14)

Cada vez que Pedro diz que sim, que é muito seu amigo, Jesus pede-lhe que apascente as suas ovelhas, ou seja que espalhe a sua mensagem. E depois diz o seguinte:

“Em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres.” (João 21, 18)

Interpreta-se normalmente este “estender as mãos” como sendo uma referência martírio de Pedro. Eu acho que pode ser uma maneira de dizer “pregar”. Mas quem é o “outro” que ata Pedro e o leva para onde ele não quer ir? Conhecendo o estilo de João, este é mais um puzzle, uma referência indirecta a alguém… E quem? Paulo, who else? Paulo, o apóstolo que de modo nenhum era amigo de Jesus, pois não fazia o que ele tinha ensinado, e pregava uma outra doutrina. Se Pedro era amigo de Paulo então não podia ser amigo de Jesus também. Já dizia Jesus, nenhum homem pode servir dois senhores… (Mateus 6, 24) Então Pedro era amigo de quem? De Paulo, tal como está na carta que Pedro não escreveu? Ou de Jesus, tal como está escrito no Evangelho e como o próprio Pedro disse? Não me parece haver aqui grande dúvida, sinceramente.

Até aos dias de hoje, Pedro é o único Apóstolo que se diz ter tido alguma relação de proximidade com Paulo. Se a falsa carta de Pedro, com a inserção referente a Paulo, já estava em circulação na altura em que este bocado do Evangelho foi escrito, não me espanta nada encontrar esta referência feita por João: Paulo estava a tentar levar Pedro para o seu lado e João tinha que impedir a vitória do outro apóstolo. Não é nada que João não tenha feito noutros textos (Apocalipse e Cartas). Essa disputa é narrada também por paulo:

“Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade;
Uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho.Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda” (Filipenses 1, 16-18)

Ainda neste último capítulo do Evangelho de João há mais uma coisa interessante. Imediatamente depois de profetizar sobre o futuro de Pedro, Jesus diz-lhe: “Segue-me!” E mais adiante, torna a dizer: “Tu, segue-me!”
Jesus parecia preocupado com os caminhos de Pedro… Talvez estas sejam palavras importantes. Segue-me. Jesus disse-o mais que uma vez durante o Evangelho: “Segue-me.”. Compare com Filipenses 3, 17, onde Paulo escreveu: “Sede todos meus imitadores.”

O ponto alto (ou um dos) do ministério de Jesus é o Sermão da Montanha. Jesus reuniu um número extraordinário de pessoas num monte e ensinou-lhes as Bem-Aventuranças (Mateus 5, 1-12), de onde retiramos os pilares para uma vida Perfeita: justiça, paz, humildade, misericórdia, pureza de coração. Jesus não fala sobre fé, nem sobre si próprio durante este sermão, mas sim sobre conduta “justa”.

De facto, a preocupação de Jesus com a conduta justa é o centro de todas as suas lições. Ele disse, “Os justos terão vida eterna.” (Mateus 25, 46) Quando ensinava, falava às pessoas sobre o Reino de Deus (que está “dentro de ti” [Lucas 17, 21), e sobre como atingi-lo e ser perfeito (“Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste” [Mateus 5, 48).

A vida justa e a perfeição manifestam-se, segundo Jesus, pelos “frutos”. Árvores boas dão bons frutos, árvores más dão maus frutos. Tal como Jesus disse, “Pelos seus frutos os conhecerás.”(Mateus 7, 16-17) Quer isto dizer que podemos conhecer o interior de uma pessoa pela suas acções (frutos), e separar os bons dos maus consoante as suas acções são boas ou más. Jesus disse aos discípulos que é isto mesmo que acontecerá no Julgamento (João 5, 29).

Jesus queria dos seus discípulos bons frutos. Ele próprio o disse na sua despedida, durante a Última Ceia: “Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amar-des uns aos outros.” (João 13, 35) Disse também: “Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando.” (João 15, 14-15)

Os bons frutos são não só a marca do discípulo mas também o requisito para a entrada no Reino de Deus: “Nem todos os que me dizem “Senhor, Senhor” entrarão no Reino do Céu; mas sim aqueles que cumprem a vontade do meu Pai que está no Céu.” (Mateus 7, 21) O objectivo da missão de Jesus era ensinar os mandamentos. E ele próprio disse: “Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.” (Mateus 7, 24-27)

Todas estas coisas são evidentes na doutrina de Jesus. Basta ler o Evangelho – elas estão lá, em todas as coisas que Jesus disse e fez. No entanto, a versão de Paulo é drasticamente diferente. Segundo este, a Salvação, a entrada no Reino de Deus, consegue-se através da Fé, e não dos “frutos”. Ouvir e pôr em prática os ensinamentos de Jesus não é um requisito obrigatório para “acertar contas com Deus”, porque, de acordo com o “evangelho” de Paulo, apenas a verdadeira Fé pode salvar um homem. Isto o diz Paulo em diversas ocasiões:

“Pois estamos convencidos que é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras da lei.” (Romanos 3, 28)
“Porque é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto […] não vem das obras. (Efésios 2, 8-9)
“Ele salvou-nos, não em virtude das obras de justiça que tivéssemos praticado, mas da sua misericórdia […] a fim de que pela graça, nos tornemos herdeiros da vida eterna.” (Tito 3, 5-7)

Paulo torna a reforçar esta ideia em Romanos 4, 6 e 2 Timóteo 1, 9. Porque era ele tão insistente neste assunto? Se toda a vida de Jesus foi ensinada a ensinar e a incentivar a cumprir os ensinamentos, será que não terão alguma importância? De acordo com Paulo, não, não têm. Aliás, Paulo nunca os cita – é essa a importância que lhes dá. Exaltando a Fé sem Obras, Paulo vira Jesus do avesso, obscurecendo o âmago da sua Mensagem – “sede perfeitos” – e substituindo-os com um novo lema: sede beatos. As duas doutrinas são radicalmente opostas.



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